sábado, 19 de maio de 2012

De príncipes e heróis


E aí você chegou. Ou melhor, eu cheguei. Você já estava lá. Eu que andava em círculos sem parar, e você que me via e pensava, Será que ela não fica tonta nunca? Eu ficava. Mas já não sabia mais como era viver sem estar tonta, com o medo constante de que o chão desaparecesse. Até que um dia, nem sei muito bem como, eu dei um passo pro lado. Saí do círculo, e o chão continuou lá. Era estranho estar parada. Sentei, ali mesmo, ao lado do círculo marcado pelos meus passos. Passei muito tempo sentada, olhando para o que um dia foi a minha vida e achando aquilo meio cinza. Meio morto. Tudo me parecia assim e, se eu não estava mais rodando sem parar, também não estava seguindo em frente.


E aí você chegou. E me deu a mão. Eu levantei, e vi dentro dos seus olhos escuros todas as cores que o mundo havia perdido. E no seu peito encontrei um coração que batia numa melodia que eu há muito tempo não escutava. Não sei, aliás, se já a tinha escutado. Mas me parecia familiar. Nós caminhamos, e o seu cheiro também parecia familiar e, ao mesmo tempo, inédito. Parecia cheiro de terra molhada depois da chuva. Cheiro de felicidade.


Então, quando você chegou, com essas cores e melodias e esse cheiro, achei que você fosse ele. Mas você não é meu príncipe. Você é melhor. Você é feito de carne e osso, e quando você me beija eu sinto gosto de sangue. Gosto de vida. Quando eu deito a cabeça no seu ombro, sei que posso depositar ali todo o peso que a vida me faz carregar. Ao descansar nesse ombro tão forte pensei, Talvez ele seja um herói.


Então, quando você chegou, com um corpo feito de vida e um ombro de herói, eu entendi. Entendi porque era melhor que você fosse um homem, e não um príncipe. Príncipes são fantasias, assim como deuses. Tudo para eles é possível. Eles não têm coragem porque não sentem medo. Por isso, desde que o mundo é mundo, os heróis são humanos. São homens, e cada um tem o seu calcanhar de Aquiles, lembrando-o do risco, presentificando a morte. É na presença da morte que se vive. O herói, por se saber finito, faz de cada chance uma pequena eternidade. E é por isso que eu não preciso de um príncipe. Porque o amor é para heróis.