segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Luto

Luto para escrever esse texto. Reluto por não querer escrever as palavras que têm me escrito. Temo dizer o que não quero e, talvez, o que quero também. Teimo em dizer que não sei nada. Mas luto, reluto, temo e teimo por não conseguir entrar em acordo comigo. Parte de mim está com raiva, quer que essa história acabe e a vida siga. Outra parte quer entender, ainda, os pormenores, detalhes (in)significantes que fizeram nós, mas não deram laço. E há também a parte que não liga pra raiva, não quer entender nada, e só quer viver o que resta de amor, viver o amor que é sempre resto. E há ainda eu. Que não consigo escrever as frases acima sem encher os olhos de lágrimas. Que odeio não ser capaz de dar fim a confusão. Que entendo, não entendo, e odeio as duas coisas. É, parece que há muito ódio por aqui. Mas é que só quem ama é capaz de odiar. E eu amo, muito. Todas as minhas partes te amam e te odeiam ao mesmo tempo. Todas sentem você. Então teimo. Teimo em dizer que te odeio. Temo dizer que te amo. Reluto em dizer por que luto. Luto para não viver o luto. Luto para não viver sem você.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Confraria dos Trouxas

A partir de hoje tem post meu toda quarta na Confraria dos Trouxas . As postagens dessa semana são baseadas na música "Prato de Flores" (Nação Zumbi) e estão super legais, confere lá!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Impensável

“Eu sei muito bem o que você faria.”

Ele disse isso e eu ri. Nem eu sei o que faria. É claro que digo que sei, que agiria de tal modo, que nunca faria tal coisa, que sempre faço assim. Mas digo isso pra me acalmar. Gosto de fingir que antevejo exatamente como me comportarei em qualquer situação. Perco horas, dias, anos de vida assim: imaginando, prevendo, decidindo quem eu sou. Só que aí a vida chega, cheia de acasos e situações imprevisíveis. Ou situações que previ mil vezes, todos os detalhes como imaginei, tudo encaixando perfeitamente. E aí eu. Um eu que não sei que sou, vai lá e responde de forma inesperada. Uma palavra fora do script sai da minha boca. Um gesto impensável me escapa. Impensável: palavra das mais assustadoras pra mim. Eu que me escondo atrás de pensamentos, tentando não ter que me deparar com a minha própria imprevisibilidade. Porque eu sei que a vida é imprevisível e todo esse blá blá blá que eu mesma repito incansavelmente. Mas o que me assusta não é isso. Meu problema não é que aconteça algo fora do previsto, mas que eu reaja de um jeito diferente. Por exemplo, acaba de me ocorrer algo tão estranho que quase ignorei, mas vou escrever. Pensei: quanto mais tento prever e antecipar, mais me apavoro ao reagir de forma diferente. Sem padrões previamente estabelecidos, posso ter qualquer atitude que não estarei me contradizendo. Quase sinto alívio. Por quase um segundo. E aí penso que, para isso, terei que parar de pensar. E viver. Não o futuro ou o passado, não analisando o que já foi para preparar-me para o que virá, mas o agora. Chego a rir do clichê, “viver o presente”. Mas eu sou feita de clichês. E também não sou. Eu penso demais, fujo, me escondo, mas também ajo sem pensar, fico, me exponho. Eu sou todas essas contradições, e outras mil. E por isso vou agir de forma inesperada muitas vezes. E vou agir exatamente como ensaiei em outras tantas. Por isso, vou continuar pensando, planejando, ensaiando. Mas, a despeito de mim, às vezes, me pegarei vivendo.