segunda-feira, 9 de maio de 2011

Resenha: "Uma Viagem à Índia", Gonçalo M. Tavares


Melancolia contemporânea (um itinerário)

Não posso começar essa resenha de outra forma que não seja dizendo que Gonçalo é um gênio da literatura. Transformar um Épico sobre uma viagem à Índia, dividido em cantos e estrofes, num tratado sobre a vida contemporânea é quase inimaginável; mas foi exatamente o que ele fez.

O subtitulo do livro "Melancolia contemporânea (um itinerário)" é perfeito, e diz muito mais do livro do que o título em si. Porque muito mais do que viajar até a Índia, o que Bloom faz é um percurso de vida. Ele busca, como buscamos todos, respostas, sabedoria, amor, algo que lhe traga paz ao mesmo tempo que o empurre para a vida. Ele sai de Portugal fugindo de uma situação trágica e acredita que na Índia, tão mística e antiga, encontrará o que em casa não conseguiu. Acompanhamos Bloom então durante sua jornada, esperando e torcendo que ele encontre a paz e a felicidade - e a cada estrofe percebendo que a vida não é bem assim. O que me restou do livro é que não há esse Éden que buscamos. Preocupamo-nos muito com o que é a vida, com a busca da felicidade, com grandes acontecimentos importantes, e acabamos paralisados de tanto pensar, não percebendo que a cada dia a vida passa, e somos nós que não damos peso ao que nos acontece.

Através de Bloom, Gonçalo traça genial e minuciosamente o itinerário que nós, maníacos e melancólicos "pós-modernos" vivemos. E tudo isso com uma escrita ao mesmo tempo crua, irônica, leve e acolhedora. Como esses quatro adjetivos podem representar uma mesma escrita? Só lendo Gonçalo para sentir.

7 comentários:

Ana SSK disse...

Uau, heim. Promissor
E que capa bonita.

Suzana Martins disse...

Uau, maravilhoso!!
Fiquei curiosa...

Beijos linda

Teresinha Oliveira disse...

Lembrou-me o filme 'Comer, Amar, Rezar'. Sair do perto para encontrar algo no longe. E a India exerce esse fascínio espiritual em todos nós.

Jorge Pimenta disse...

acreditas que comecei a ler tavares e não consegui agarrar? escapou-se-me das mãos. tenho de me dar uma segunda oportunidade... ainda assim, fiz uns quantos sublinhados que apontam para uma dimensão próxima da sublimação. [talvez tenha pegado nele na hora errada].
beijinho, cariha!
p.s. sabes que há uma vaga imensa de intelectuais portugueses que auguram a este menino uma carreira com a projecção da de saramago? [com nobel incluído]

Carina Destempero disse...

Qual você tentou, Jorge?
Eu acho que tem muito isso da hora de pegar o livro mesmo. Agora mesmo peguei um Lobo Antunes que normalmente adoro, mas não consegui, empaquei.
Eu sei, inclusive o próprio Saramago vislumbrou esse nobel dele, não foi?
Eu sou encantada com Gonçalo, é meu escritor favorito atualmente, já li 15 livros, dele.
Dê outra chance depois sim, quem sabe não pega?
Um beijo!

Felicidade Clandestina disse...

adorei esse vermelho.

e sua resenha :) na lista.

beijos querida.

Anônimo disse...

ainda não li, mas os 4 adjectivos qualificam bem a escrita que conheço do Gonçalo. Reforça a minha vontade de o ler.

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