segunda-feira, 25 de abril de 2011

O susto virou surpresa

(...)

É curioso pensar nas conseqüências dos nossos atos ou do que nos acontece quando o tempo decorrido nos afasta da situação. Ao escrever agora sobre aquela noite tive uma percepção completamente diferente da que me tomou quando ela era, ainda, o suposto último encontro, e mesmo quando, duas semanas depois, deixou de sê-lo.

Lembrava-me de um encontro cheio de poréns, atrapalhado, esquisito, mesmo que tenhamos conseguido rir da situação e não levá-la tão a sério. E achava que isso era uma coisa ruim, que um encontro desses significaria, mais do que qualquer coisa, o fim. Hoje, no entanto, acho que foi justamente esse emperrado que nos levou a um novo encontro. Não houve um fim propriamente dito naquela noite. Mas será mesmo que veio daí o desejo de um novo encontro? Não há como saber. Mas o que percebi é que desde então a história que construímos se parece muito com aquela noite: cheia de falhas, de faltas, de imprevisibilidade, de atrasos, de separações...

Confesso que relutei muito antes de aceitar essa nossa relação. Acreditava que queria outra coisa: um relacionamento tranquilo, com alguém mais simples e em que tudo fosse mais fácil. Sempre achei que minha felicidade fosse diretamente dependente de estabilidade e organização. E talvez tenha sido, mesmo. Também por isso nunca gostei de mudanças. Mas elas acontecem, mesmo comigo, apesar de mim.

E fui descobrindo que para cada falha há um sorriso. Para cada atraso, um beijo. Para cada separação, um novo encontro. E me vi cada vez mais feliz onde menos esperava: no meio dos imprevistos, da indefinição e da incerteza. Porque, de repente, o susto virou surpresa. O surto virou desejo. E todas as decisões tomadas sem antecedência, sem análise, sem estudo, deram certo. De repente, a sorte. Uma sorte inacreditável, coisa de livro, coisa de filme, coisa nossa. E quem vai lutar contra a sorte?

Eu poderia. Acho que ainda luto, ainda lutamos. Mas a luta faz parte, também. Os recuos que são como a maré se recolhendo para voltar numa onda maior. Não temo mais que a onda me derrube. Arrisco o passo sem saber se será adiante, se será tropeço, ou se será queda. Não importa. Cair não me apavora mais. Porque na nossa história o que é fim, de repente, se torna começo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Escolhas

Eu tenho problemas com o destino. Essa coisa de "maktub" (do árabe, "estava escrito") ou o que tiver que ser será. Acho que o que tiver que ser só será se fizermos alguma coisa, e o que estava escrito só vai valer se for lido. Eu costumo dizer que destino é uma desculpa para o comodismo e a desresponsabilização do sujeito frente à sua vida e suas escolhas. Porque, sejamos sinceros, escolher é difícil. Toda escolha implica em perda. E ninguém gosta de perder. Então adiamos, enrolamos, colocamos a responsabilidade no outro - e o destino é um dos outros favoritos.

O problema é que a vida parece muito com um jogo de xadrez. (Isso pode soar como um clichê brega, mas é uma ótima analogia, acreditem.) A cada passo dado, a cada peça movida, a cada escolha feita perdemos milhares de outras possibilidades. Dar um passo para a direita significa não dá-lo para a esquerda. Andar com uma peça significa não andar com todas as outras. Só que, para ganhar é preciso andar, mover-se, e às vezes até fazer um sacrifício. Só assim temos alguma chance de ganhar. E na vida é a mesma coisa. Pode-se dizer que enquanto não escolhemos continuamos com todas as opções disponíveis, e é verdade. Mas elas existem apenas como potencialidade. Sem escolher não perdemos, mas também não ganhamos. De que adianta poder mover qualquer peça em qualquer direção se você não o faz? O jogo continua e é a vez do outro, e agora as suas escolhas serão limitadas pela escolha dele. Que desculpa perfeita, não é? Se quem escolheu foi o outro, se quem diminuiu as possibilidades foi o destino, você pode passar o resto do tempo reclamando. Pode dizer que a escolha não foi sua. Mas a escolha de não escolher foi, sim, sua. Mesmo que não a tenha escolhido, ao não dar o passo que lhe cabia, você escolheu ficar parado. Escolheu não fazer nada. Escolheu deixar que o outro escolhesse.

Mas essa não é a única forma de fugir às escolhas. Eu, por exemplo, penso. Mas penso muito, muito mesmo. Estudo, analiso, pondero, meço, questiono, articulo, projeto, planejo... E aí o tempo também passa. Não fico parada para manter as opções em aberto e nem porque acho que não adianta lutar contra o todo-poderoso-destino. Mas ainda assim paraliso. Paraliso em pensamentos dentro de mim, como se eu pudesse viver na minha cabeça uma vida fora do tempo. E, depois, quando vejo, perdi a jogada. Não culpo o outro nem o destino. Culpo a mim. Mas é a mesma coisa. A culpa não dá margem à responsabilidade. A punição não recupera o tempo – nem a escolha – perdida.

Falamos muito da liberdade de escolha, mas o que ela representa? Acredito que ser livre para escolher é não estar preso à obrigação de ter (ou fazer) tudo. É apostar, arriscar, errar, acertar, escolher de novo. Porque uma escolha, de fato, diminui as possibilidades que existiam antes dela. Sem escolher, passamos a vida com essas mesmas possibilidades, que podem ser muitas, mas são sempre as mesmas. Só escolhendo surgem novas possibilidades. Só escolhendo abrimos espaço para a surpresa, para o novo, para o imprevisível. Para a vida.

domingo, 17 de abril de 2011

Resenha - "Coração tão branco"


Imprevisível, irrecuperável e irremediável

“(...) as mulheres sentem uma curiosidade sem mescla, sua mente é indagatória e bisbilhoteira mas também inconstante, não imaginam ou não antecipam a índole do que ignoram, do que pode vir a ser averiguado e do que pode vir a ser feito, não sabem que os atos se cometem sozinhos ou que uma só palavra os põe em marcha, precisam experimentar, não prevêem, talvez estejam dispostas a saber quase sempre, em princípio não temem nem suspeitam o que se possa contar-lhes, não se lembram que, depois de saber, às vezes tudo muda, inclusive a carne, ou a pele que se abre, ou algo que se rasga.”

“Coração tão branco” teve precisamente esse efeito em mim: tudo mudou, minha pele abriu-se e minha carne foi rasgada. Fui cortada pelo livro como podemos ser raras vezes na vida, justamente em momentos em que nos permitimos não imaginar, nem antecipar, nem temer. Em “Coração...” Javier trata de questões que acredito serem caras a qualquer um que se interesse pelas desventuras humanas que vivemos a cada dia. Ele fala da força das palavras e do silêncio, do saber e do fazer, do não-pensar, do medo, do escutar e do dizer, do que é uma vida a dois. Acima de qualquer coisa fala do que é imprevisível, irrecuperável e irremediável: a vida.
O enredo em si não foi o principal na minha leitura, é uma história muito interessante, que começa com um acontecimento impactante e desperta interesse no livro. Mas a partir daí o que me moveu palavra após palavra, o que me tirou o fôlego, cortou a carne e apertou o coração foi a escrita de Javier. O modo como ele faz um ensaio sobre o humano, sobre sentimentos, relacionamentos, vida e morte, mas sem em nenhum momento dar a sensação de teorização. Ele está ali. O que ele escreve é parte dele que foi rasgada para ser oferecida a quem lê. O tempo inteiro a palavra que me vinha ao ler ou comentar o livro era a mesma: vida.
Então, o que tenho de mais importante para dizer sobre "Coração tão branco" é isso: é um livro vivo. As palavras de Javier cortam, rasgam, dilaceram, e acho impossível que alguém as leia sem ficar marcado para sempre. Mas apesar disso - ou talvez exatamente por essa razão - é um livro que indico para qualquer um que queira se aventurar nas agruras da alma humana.

*Pra quem não conhece, o skoob é uma rede social de literatura incrível que já me rendeu muitas coisas boas na vida.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Não quero escapar.

É curioso pensar nas conseqüências dos nossos atos ou do que nos acontece quando o tempo decorrido nos afasta da situação. Gostamos de recordar e pensar no que não percebemos à época, imaginar que tal coisa poderia não ter acontecido, ou que tudo seria diferente se apenas tivéssemos sabido. Mas é sempre impossível saber onde terminará o passo ao levantar o pé. Só na linha de chegada é que descobrimos qual era o nosso destino, porque ele não existe sem a caminhada.

Falo disso porque era o que estava fazendo agora, antes de começar a escrever essa carta. Estava me lembrando do nosso reencontro virtual, três semanas depois da noite em que nos conhecemos. Foi uma conversa curta, em que me senti completamente segura, protegida do real dos seus olhos e do desejo. Apenas nós e as letras.

Como eu poderia saber? Naquele momento era impossível desconfiar que seriam justamente as palavras que me derrubariam de vez. Afinal, como prever que as suas palavras iriam inscrever-se em mim de tal forma que delas nasceriam novas palavras, e outras, e tantas, em mim, em você, atando-nos um ao outro cada vez mais? Quem diria que meses após aquele jantar, com aquele fim, sem nenhuma indicação de continuidade, eu estaria de madrugada escrevendo e endereçando a você palavras digitadas em uma tela de computador? E, mais que isso, que seriam palavras assim, íntimas, envergonhadas, que carregam em si um pedaço meu? E agora, o que será que acontecerá com essa carta? Nem eu sei que rumo ela tomará ou qual será o seu fim, pois escrevo por necessidade de te falar o que não sei dizer.

Não sei dizer porque continuo ao seu lado. Você roubou-me o que eu tinha de mais caro - minha adorada ilusão de controle - e ainda assim só o que eu quero é você. Ou talvez não seja "ainda assim", talvez seja "porque" você tomou a minha maior ilusão que te quero tanto. Talvez seja pelos motivos escritos, reescritos, inscritos, que me assaltam de forma tão intensa nos momentos mais inesperados. É engraçado, escrevi isso e imediatamente me vieram sua imagem e sua voz dizendo: "Mas, linda, você não acha que isso é porque ..." e dá uma explicação que não consigo imaginar. E é exatamente isso. Porque eu te lembro, te sonho, te quero, mas não sei te prever. E nem quero. Talvez fosse isso o que eu precisava te dizer. Que eu não sei. Que tenho mil motivos e nenhuma explicação. Que estar com você é uma escolha feita a cada dia, a cada vez. Quero dizer que ao seu lado caminho de olhos fechados. E dou o passo sem medo, sabendo que o tropeço também é movimento.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Destino das palavras

Eu sempre escrevo para o outro. Toda e qualquer palavra que escreva, mesmo as que ninguém nunca lê, só saem de mim se tiverem um destinatário.

Eu escrevia muito na infância e na adolescência: poesias bobas para os amores e longas cartas para os amigos - ou seja, todos escritos claramente endereçados. Até que por algum motivo parei de escrever. Não acho que tenha tido um motivo específico, várias coisas contribuíram e a escrita acabou posta de lado. Passei muitos anos sem escrever nada a não ser trabalhos acadêmicos.
Até que no final de 2009 tive que escrever algo que não era exatamente um trabalho acadêmico. Eu deveria escrever sobre o ano de trabalho na instituição em que faço formação em Psicanálise. Essa escrita me atormentou, pois não era algo teórico e muito menos burocrático. Eu deveria escrever sobre os efeitos daquele ano de trabalho em mim. O que eu escrevesse seria lido por mim na frente de toda a instituição, e esse era meu maior nervosismo: o que estaria eu endereçando àquelas pessoas?
No dia da leitura emocionei-me muito. Naquela página acabei dizendo mais de mim do que eu sabia conhecer. E a maior surpresa foi perceber muitos dos que me liam e escutavam emocionados também. Ouvir de outros que minha escrita os havia tocado era algo inesperado e estranho. A primeira frase do trabalho era uma citação de Clarice Lispector (não por acaso a mesma que estampa o cabeçalho desse blog) e uma colega que eu até então desconhecia veio dizer-me que tinha comprado o livro de onde tirei a frase, seu primeiro livro da Clarice, por causa do meu trabalho. Essa colega tornou-se uma grande amiga a quem endereço hoje muitas palavras.
Alguns meses depois entrei em uma rede social de literatura (skoob) e decidi tentar escrever uma resenha sobre o livro que estava lendo naquele momento. Estranhei o resultado da escrita, parecia muito pessoal e pouco didático. Novamente a surpresa: vários comentários e muitas pessoas dizendo que minhas palavras as levaram a ler tal livro. Percebi um pouco do que me assustava e incomodava: tinha medo da força das minhas próprias palavras, do modo como elas seriam lidas, da falta de controle que eu tenho sobre elas. Porque descobri que são elas que dizem de mim, e não o contrário.
Talvez eu tivesse ficado apenas escrevendo resenhas no skoob se não fosse uma carta. Ou melhor, duas. Nessa mesma época li o texto de alguém muito importante para mim, e tive vontade de escrever-lhe sobre o que senti lendo suas palavras. O que ouvi em retorno me marcou: "Foi o melhor presente que já recebi.". E não importa se foi de fato o melhor presente, o que ficou para mim foi que tinha sido importante dizer àquela pessoa os efeitos de sua escrita em mim. Algum tempo depois escrevi uma carta para essa mesma pessoa. Uma carta de verdade, sem nenhuma pretensão a não ser comunicar sentimentos. Novamente a surpresa com o retorno: "Isso aqui é o primeiro capítulo do seu livro." Ri, achei maluquice, mas aquilo ficava me voltando. Comecei a escrever muitas cartas, algumas enviadas e outras não, mas todas para alguém.
A partir daí não conseguia mais parar: cartas, textos, diálogos, palavras e mais palavras saindo de mim, e, então, esse blog. E hoje. Quando percebi que ainda só escrevo, e acho que sempre escreverei, para alguém, mesmo que o texto nunca receba um outro olhar. Escrevo para por para fora, muitas vezes para suportar as dificuldades, em outras para me suportar. Quando uso suportar aqui penso em aguentar mas também em dar suporte. Preciso do suporte das palavras, e do suporte do outro, para viver sem enlouquecer. Para sair da loucura e da solidão que me habitam. Escrevo para tocar e ser tocada, para fazer laço, criar nós, para existir fora de mim.
Em dois momentos quase desisti desse texto. Novamente a sensação de expor-me demasiado. Mas sigo em frente. Se o escrevi, foi porque precisei. E irei publicá-lo como agradecimento a quem me incentiva e me move, alimentando minha escrita mesmo sem saber - ou justamente porque não sabe.
E agradeço também a todos que me lêem, que comentam ou não, por permitirem, sendo destinatários das minhas palavras, que eu descubra novos destinos para a minha vida.




sexta-feira, 8 de abril de 2011

Poesia e Amor

André: Essa nossa história está te fazendo mal, não é?

Clara: Não, André. Quer dizer, às vezes me faz mal, principalmente quando você não está. Mas também me faz muito bem, mais do que qualquer outra coisa. O problema é que eu não entendo nada, e você sabe como isso me angustia. Eu não sei o que fazer. O seu silêncio grita comigo, fico morrendo de raiva, morrendo de tristeza, morrendo. Mas aí é só ouvir a sua voz que já começo a sorrir.

André: É porque sou muito engraçado.

Clara, sorrindo: Você é muito engraçado e sabe que adoro seu humor. Mas é muito mais que isso. É como se a sua voz despertasse meus sonhos e adormecesse meus pesadelos. Não importa quão mal eu esteja, ao te ouvir meu coração subitamente relaxa, se expande, e o pedaço onde te guardo - e que minutos antes eu tentava arrancar - ressurge maior do que nunca, ocupando todos os espaços.

André: Minha poeta linda.

Clara: Não é poesia. É amor.

André: E desde quando poesia e amor são coisas diferentes?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Clara: Que Eu?

Saber, entender, definir, organizar, explicar, resolver. Lógica, certeza, sentido, razão.

Se Clara tivesse que escolher dez palavras para representá-la essas seriam as escolhidas. Sem dúvida. Dúvida, aliás, é uma palavra que nunca entraria no vocabulário de Clara. Ela sabia de tudo, sempre. Às vezes ainda não sabia, mas logo iria saber. Clara sempre acreditou que quanto mais soubesse mais previsível seria sua vida. E previsibilidade era o que Clara mais sonhava.

Mas era um sonho muito controlado, que sonhar demais é perigoso. Clara sempre andou com os dois pés no chão: fazia o que devia fazer, gostava do que devia gostar, tudo nela era correto. Clara era a filha exemplar, a melhor aluna, a amiga perfeita, foi menina para namorar, depois mulher para casar, e seria a mãe ideal para os futuros filhos.

Tudo seguia de acordo com o planejamento, até que um dia parou de seguir. Esse é o problema de organizar tanto, quando alguma coisa sai do lugar o castelo inteiro despenca. E Clara descobriu-se, de repente, no meio de escombros. Durante o desabamento ela perdeu pessoas, sonhos, toda uma vida perfeita e exaustivamente planejada. Mas sua maior perda ela só percebeu muito tempo depois: quando caiu, Clara perdeu seu Eu, esse que ela tinha levado tantos anos cuidando para que nunca saísse do lugar.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Se eu tivesse medo não estaríamos aqui.

Era primeiro de abril e eu menti. “Se eu tivesse medo não estaríamos aqui.” Não achei que estivesse mentindo quando disse, e as mentiras muitas vezes são ditas assim, acreditando-se verdades, elas se confundem, se fundem, transformam-se uma na outra.

“Se eu tivesse medo não estaríamos aqui.” Mentira. É claro que tenho medo. Tenho medo do seu medo. Medo do acaso. Medo dos desencontros. Medo de sucumbir ao medo e não conseguir mais tecer a teia que te permite voltar. Mas o que temo mais que tudo é o não-dito. Porque aquilo que não é dito não permite circulação, não dá nós, não faz voltas. E precisamos de nós, de voltas, de palavras. É por elas que estamos aqui, não pela minha falta de medo.

“Se eu tivesse medo não estaríamos aqui.” A mentira que se aproxima da verdade quando acrescento uma palavra (e uma preposição): “Se eu tivesse medo de dizer não estaríamos aqui.” Só estamos aqui porque dizemos. Falamos dos medos, dos desejos, das dificuldades, das separações, dos encontros, dos recuos e das voltas. Falamos da vida, da minha, da sua, da que vivemos, da que não vivemos, da que gostaríamos de viver. Falamos banalidades e intelectualidades, falamos sobre cultura e humanidade, mentiras e verdades. Falamos. Dizemos. Escutamos. Com palavras e com silêncio.

“Se eu tivesse medo de dizer não estaríamos aqui.” Ainda assim uma mentira. Porque não é sem medo que digo, não é sem medo que fico, não é sem medo que te chamo de volta. Também não é apesar do medo. É com ele. Porque o medo é sinal da felicidade, assim como a angústia é sinal do desejo. Só tenho medo porque estou feliz.

“Tenho medo que você não volte.” Verdade. Verdade dita com medo, mas dita. Assim me apresento, me despeço, te endereço e chego mais perto da minha verdade.

“Tenho medo que você não volte.” Mas ainda assim te quero. Porque com você aprendo a cada dia, a cada vez, a cada voz, a viver com medo. E sabe o que descobri? O medo não é tão assustador assim. Viver sem medo – e sem você – me assusta muito mais.

domingo, 3 de abril de 2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Por que?

Tuas palavras que me escrevem. Teu silêncio (in)decifrável. Teus olhos de precipício. Tua boca que me envenena. E teu beijo que me cura. Tuas dúvidas. Tuas certezas. Tua extroversão superficial. E tua timidez profunda. Teu riso raro. Tua mão, sempre quente, em mim. O conforto dos teus braços. Tua inteligência sedutora. Tua genialidade óbvia. Teus mil talentos. Tuas músicas. Teus escritos. Tua voz que me enfeitiça. Teu canto que me encanta. Teu corpo que me desperta. Teu cabelo (des)arrumado. Tua barba. Teu jeito de puxar meu cabelo (que me desmancha inteira). Teus convites loucos (que eu sempre aceito). Teu sabor. Teus medos infantis. Tuas perguntas sem resposta. Teus livros. O ciúme dos teus outros tantos. O carinho com que beija meus olhos fechados. As maratonas culturais. Os olhares silenciosos. O jeito que me incentiva. A raiva orgulhosa dos meus textos. Tuas previsões delirantes. Tua fuga que sempre volta. Tua volta que sempre vai. Teu tempo, tão diferente do meu. Tua mentiras sinceras. E as verdades encobertas. Os nomes que não damos. A felicidade que vivemos. Os planos que não fazemos. Nosso passado que é presente. Nosso fim, que é (re)começo.