terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tu, talvez, eu só tenho estado à sua espera.

"(...) esgotadas as forças dos corpos, os espíritos aproveitam para levantar timidamente o dedo e pedir autorização para entrar, perguntam se lhes permite fazer ouvir as suas razões, e se eles, corpos, estão preparados para lhes dar atenção. É então que o homem diz à mulher, ou a mulher diz ao homem, Que loucos somos, que estúpidos temos sido, e um deles, misericordiosamente, cala a resposta justa que seria Tu, talvez, eu só tenho estado à sua espera. Ainda que pareça impossível, é este silêncio cheio de palavras não ditas que salva o que se julgava perdido, como uma jangada que avança do nevoeiro a pedir os seus marinheiros, com os seus remos e a sua bússola, a sua vela e a sua arca do pão."

José Saramago, "O Homem Duplicado".

1 comentários:

Anônimo disse...

Ainda que pareça impossível, é este silêncio cheio de palavras não ditas que salva o que se julgava perdido.

UAU.

Li Saramago semana passada. Ele sabe das coisas e é doce.

Postar um comentário